AS PRAÇAS DE SÃO PAULO

Viajante de cidades, 22/08/2013, por Karin Salomao

Semana passada estava na frente da Horta das Corujas, na praça da Vila Madalena. Esperava uma das criadoras daquela horta para uma entrevista. Até que um senhor se aproximou e perguntou: “você é jornalista? Parece…”

Sem esperar nenhum convite, ele começou a conversar:

“Sabe que quem cuida de todas essas praças sou eu?”, disse, com orgulho e um pouco de raiva. Há anos, ele cuida e monitora algumas praças da cidade, na zona oeste, norte e sul. Visita-as semanalmente, com uma prancheta e uma pasta nos braços, conversa com os zeladores (sabia que as praças têm zeladores? Eu não sabia), verifica o corte da grama, os brinquedos das crianças, os cestos de lixo, a limpeza de cada cantinho.

Segundo ele, não importa muito o poder aquisitivo de um bairro: os espaços mais bem cuidados vão continuar limpinhos e arrumados, enquanto os espaços vandalizados e com lixo no chão continuarão assim. Se a praça já está suja, as pessoas não se incomodam de sujar mais um pouco, diz ele.

Ele acha um absurdo que as árvores em São Paulo não sejam frutíferas. “Já pensou, você está andando e pega uma manga do pé?”, diz ele. Mexerica, amora, ameixa, jaca, banana. “Ali tinha um pé de jabuticaba. Eu sempre pegava algumas.” Para ele, a cidade tem que ser comestível. As pessoas deveriam poder se alimentar nas ruas, de forma saudável, fresca, pegando frutas direto no pé.

“Ah, mas a Horta das Corujas é bem comestível”, digo. “Ah, é. Mas as pessoas só cuidam desse espacinho aqui. Quem tem que cuidar de todo o resto sou eu. Mas veja. Ao invés de uma samambaia, as pessoas deveriam plantar alface, rúcula, cebola.”

Ele precisa continuar o trabalho. Tem mais quatro praças para visitar hoje. Antes de ir embora, pergunto: “qual o seu nome, mesmo?”.

“Adão.”